domingo, 3 de junho de 2012

Se depender da Marta, Serra vence fácil

Marta Suplicy fez o que Serra gostaria que ela fizesse

A senadora Marta Suplicy não foi ontem ao lançamento oficial da candidatura de Fernando Haddad pelo PT para disputar a prefeitura de São Paulo. Sua atitude não é só de indelicadeza, mas de desrespeito político.
Marta sempre teve a militância petista em todas as campanhas majoritárias que disputou. E não foram poucas.
Em 1998, sua primeira candidatura a cargo majoritário só não foi melhor sucedida porque uma pesquisa “bem arrumada” pela dupla Ibope/Globo a tirou do segundo turno contra Paulo Maluf. Covas venceu-a por 0,4% dos votos.

Na ocasião foi o ex-presidente Lula quem bancou sua candidatura. Havia muita gente achando que José Genoino ou Mercadante deveriam ser os candidatos petistas àquela disputa. Lula queria Marta. E convenceu o partido do jeito dele. Aliás, convenhamos nem sempre Lula ganha. Perdeu com Plínio para Erundina, em São Paulo. E teve que engolir a candidatura de Luizianne Lins, em Fortaleza, em 2004. E ambas se elegeram. O que significa que nem sempre Lula impõe sua vontade ao PT. E que nem sempre acerta também.
Mas voltando a 1998, Genoino topou sair da disputa também porque vislumbrava a eleição da capital, em 2000, como algo mais interessante. Mas a votação de Marta ao governo do Estado levou-a a se tornar um nome natural do partido para a disputa de São Paulo.
E Marta foi a candidata e se elegeu prefeita em 2000.
Montou um grupo político e controlou o partido localmente com mão de ferro. Alguns de seus desafetos não tiveram espaço na gestão municipal.
Não há grande novidade nisso e faz parte do jogo político.
Marta, deste ponto de vista, realizou algo que Luiza Erundina não conseguiu. O PT governou com Marta. Sem lhe dar maiores dores de cabeça.
Na reeleição, em 2004, Marta e uma parte de seus articuladores achavam que a eleição seria vencida pelas qualidades de seu governo. Que eram muitas, muitíssimas. Mas havia o fator Marta. A prefeita, até por preconceito midiático, se tornou uma candidata pesada. Muita gente a via como uma pessoa arrogante, prepotente, metida etc.
Havia muito de razoável nesta avaliação.
Marta não se esforça nenhum pouco para se mostrar diferente. Ao contrário, Marta é difícil. Uma pessoa bem difícil.
Em 2004, por exemplo, não se esforçou para ter o PMDB como aliado na disputa pela reeleição. Fez bico e deu de ombros. Ouvi de alguém bem próximo a ela que “não valia a pena gastar nem uma vela sequer com aquele defunto”. Ou seja, o PMDB na avaliação daquele interlocutor não existia. E Marta compartilhava daquela avaliação, em garantiu o gajo.
Acontece que o partido à época de Quércia tinha um precioso tempo de TV que poderia ter sido fundamental para diminuir a rejeição a então prefeita e aumentar a aprovação de sua administração, que era alta.
Quem perdeu aquela eleição não foi a gestão, foi Marta. Quem tinha rejeição alta era a prefeita. Não seu governo.
Após a derrota de 2004, Marta disputou as prévias para disputar o governo do Estado com Mercadante e perdeu no olho mecânico. Ou seja, convenceu boa parte da militância petista de que era a melhor candidata. E quase disputou o cargo de Alckmin pelo partido.
Em 2006, tentou a prefeitura de novo. E sua campanha foi um desastre. Foi coroada pelo “é casado, tem filhos?”, que se tornou uma mácula no seu currículo tão próximo às lutas da comunidade LGBT.
Perdeu feio de Kassab no segundo turno.
Na eleição seguinte, em 2010, disputou a eleição para o Senado pelo PT. Fez uma campanha fraca, mas se elegeu com a segunda maior votação. Tendo sido superada por Aloysio Nunes na reta final.
Ou seja, Marta teve de 1998 até 2010 o apoio do PT paracinco disputas majoritárias. Ganhou duas e perdeu três. Perdeu e ganhou com o apoio da militância do seu partido.
Fez disputas bonitas, como a de 1998 e 2000. E disputas mais complicadas, posteriormente.
Fez uma bela gestão municipal em São Paulo e teve duas chances para defender essa história, em 2004 e 2008. Não conseguiu convencer o eleitor de que merecia voltar.
Por acaso Marta foi rifada pelo partido? Ela não teve condições de defender seu legado?
Essa tese que a senadora tenta vender ao não ir ao lançamento da candidatura de Fernando Haddad é falsa. Ela não tem do que reclamar.
Sua postura, ao contrário, reforça o preconceito que boa parte do eleitorado tem dela. De que é uma pessoa arrogante e que se as coisas não forem do seu jeito, não brinca. Aquela menina(o) mimada(o) que só se diverte se for o centro das atenções. Quando há alguém disputando espaço, pega o seu brinquedo e vai embora.
A atitude da senadora Marta na manhã de ontem de não ir ao encontro municipal do PT São Paulo e não atender o telefone é de um ridículo ímpar.
Conhecendo um pouco o partido, aposto que ela jogou fora uma boa parcela de sua credibilidade com a militância principalmente. Principalmente porque os jornais de hoje exploram mais a sua ausência do que a festa. Muitos petistas vão guardar essas matérias no bolso.
Marta fez o que o Serra gostaria que ela fizesse.
E, o pior, talvez tenha se divertido com isso.

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