domingo, 1 de agosto de 2010

Registros de Guerra

Estou preparando um longo post sobre o assunto abaixo para os próximos dias, porém este abaixo já é um excelente post.

Boletim H S Liberal


Der Spiegel – Durante a Guerra do Vietnã, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, afirmou certa vez que Daniel Elsberg, o vazador dos Documentos do Pentágono, era o homem mais perigoso do país. Atualmente, você é o homem mais perigoso ou o mais ameaçado?

Julian Assange – Os homens mais perigosos são aqueles que fazem a guerra. E eles precisam ser parados. Se isso me faz perigoso aos olhos deles, tudo bem.

Este é um trecho da entrevista que Julian Assange, 39, fundador do portal WikiLeaks, concedeu à revista alemã Der Spiegel. Ele fala sobre a sua decisão de publicar os “registros da guerra”, aborda o difícil equilíbrio entre o interesse público e a necessidade de segredos de Estado e revela por que acredita que as pessoas que fazem a guerra são mais perigosas do que ele.

A motivação do WikiLeaks, que promete muito mais revelações indesejadas aos senhores da guerra, são ditas com muita segurança por Assange. Ele espera que a divulgação dos “registros de guerra” no atual momento possa ainda gerar algo de bom. São mais de 90 mil incidentes diferentes, locais geográficos bem definidos, e episódios de variada magnitude. Um conjunto unificado de informações que apagam tudo o que se disse até agora sobre o Afeganistão. “Esses arquivos modificarão o nosso ponto de vista não só sobre a guerra do Afeganistão, mas também sobre todas as guerras modernas”.

Desde 3 de abril deste ano, quando foi divulgado um vídeo que mostra o assassinato de civis no Iraque, WikiLeaks vem colecionando dezenas de milhares de comprometedores documentos da guerra no Afeganistão. No episódio iraquiano, também foram mortos agentes de saúde que recolhiam corpos, além de um motorista e um fotógrafo que trabalhavam para a agência Reuters. Neste domingo, o jornal londrino Guardian destacou, sob o título “Registros de Guerra”, que o vazamento maciço de arquivos secretos expõe a verdadeira face da guerra no Afeganistão, onde “centenas de civis (foram) mortos por soldados da coalizão” de ocupação.

Der Spiegel desta semana traz informações e imagens de um quadro sombrio, em que unidades de “caçadores secretos” são também responsabilizadas por mortes de crianças. A revista alemã fala até em “ingenuidade” da participação das tropas alemãs, diante de “crescentes problemas”. Mais pragmático, o New York Times, embora reconheça que o cenário é mais desanimador que a representação oficial, prefere alertar para os prejuízos das forças de ocupação diante da espionagem. Por essas, analistas começam a ver indícios de fracasso dos Estados Unidos, tanto no Afeganistão quanto no Iraque. É o caso de Ullrich Fichtner, da Der Spiegel.

Diante de toda a perplexidade do cenário desfavorável, as autoridades estadunidenses preferem centrar o foco na busca de informações sobre a responsabilidade pelo vazamento. Preferência que sensibiliza mais os meios de comunicação do lado de cá do Atlântico, não somente nos Estados Unidos. É por isso que vemos pouca repercussão dos “registros de guerra” na mídia brasileira, mais preocupada com um novo bate-boca entre Hugo Chávez e Álvaro Uribe. Entrevero que somente merece maior preocupação se razão tiver o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, que acusa Washington de insuflar Uribe no caminho da guerra contra Chávez.

Os EUA procuram minimizar as revelações dos “registros de guerra”, exibindo outros documentos que falam de um suposto envio de armas iranianas para reforçar a resistência afegã contra a ocupação. Este tema logo invade os espaços da mídia ocidental, tornado-se a cortina de fumaça que Washington queria. E qualquer leitor, ou ouvinte, ou telespectador brasileiro sabe que Irã e Venezuela são os assuntos preferidos de nossos jornalões. Morram quanto civis morrerem, sob mísseis de Israel no gueto de Gaza, ou da OTAN no Iraque e no Afeganistão, nossa lamentável mídia, seus colunistas, seus editoriais, somente têm olhos para Chávez e Ahmadinejad.

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