domingo, 29 de maio de 2011

O retorno de Zelaya

operamundi

O ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya retornou neste sábado (28/05) a Honduras, onde era esperado por milhares de pessoas, informou a impresa local. Ele chegou de Manágua em um avião venezuelano CRJ 700, que aterrissou às 14h22 locais (17h22 de Brasília) na capital hondurenha, Tegucigalpa.

Zelaya beijou o chão ao sair da aeronave. Ele foi recebido por sua mãe, Hortênsia Rosales, seus filhos Héctor Manuel e José Manuel, e o ministro de Planejamento hondurenho, Arturo Corrales, um dos negociadores do acordo que permitiu seu retorno.

Em breves declarações a jornalistas, ele agradeceu pela gestão do acordo aos presidentes de Honduras, Porfirio Lobo, da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Juan Manuel Santos.

Antes de sair da Nicarágua, Zelaya disse em entrevista à Telesur, que seu retorno a Honduras é como "uma vitória" para a democracia da América Latina.

"Minha volta é resultado de um esforço que todos os países da América Latina fizeram. É uma vitória dos processos institucionais e democráticos", comemorou, antes de embarcar.

Zelaya chegou na noite de sexta-feira à Nicarágua vindo da República Dominicana, onde ficou nos últimos meses.

Seu regresso abre caminho para a reintegração do país à OEA (Organização dos Estados Americanos), órgão do qual foi suspenso em outubro de 2009, após o golpe de Estado que o depôs.

Mudanças políticas

A expectativa é de que ele encontre uma Honduras diferente da que deixou em janeiro do ano passado, a começar pelo cenário político. Após sua deposição, grande parte da base aliada de seu partido, o PL (Partido da Liberdade), deixou de apoiar Zelaya por considerá-lo muito radical e acusá-lo de abandonar a organização para dedicar-se apenas a FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular), coalizão formada principalmente por simpatizantes de esquerda.

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Durante seu exílio, Zelaya provocou polêmica com os aliados liberais ao dizer que se considera um "liberal pró-socialista", o que foi considerado contraditório já que o PL, junto com o atual governante PN (Partido Nacional), é um dos dois grandes grupos conservadores que dominaram a política de Honduras.

Para o dirigente Edmundo Orellana, que foi seu ministro em três diferentes carteiras, em seu retorno Zelaya deve definir se militará pela FNPR ou pelo PL.

A FNPR, por sua vez, garante que Zelaya deixou o liberalismo e militará apenas para a frente. Para o subcoordenador da frente, John Baker, Zelaya chegou ao poder por meio de um "partido oligarca", mas agora, após o exílio, é a hora do ex-presidente atuar de uma forma mais próxima ao povo, por meio da FNPR.

Em declarações à imprensa hondurenha, Baker afirmou que para o sábado (28/05), os simpatizantes do ex-presidente prepararam carreatas e passeatas pelas principais ruas de Tegucigalpa. A FRNP, porém, proibiu bandeiras vermelhas e brancas, que representam o liberalismo, bem como as do partido esquerdista UD (Unificação Democrata).

Segundo o encarregado da FNRP para a recepção de Zelaya, Gilberto Ríos, a frente espera mobilizar um milhão de hondurenhos para a praça Isis Obed Murillo, localizada na zona sul do aeroporto internacional de Toncontín.

Nesta sexta-feira (27/05), trabalhadores, camponeses, indígenas, mulheres, políticos progressistas, e representantes de outros setores no país foram convocados pela FNRP para participar das manifestações pró-Zelaya.

Zelaya foi deposto por um golpe de Estado militar em 28 de junho de 2009 e se exilou na República Dominicana. A efetivação de seu retorno foi fruto de um longo diálogo com o atual governo, intermediado pela Colômbia e pela Venezuela, que também lideraram as negociações para a reincorporação de Honduras à OEA.

O ex-presidente, por sua vez, impôs como condição para seu regresso a anulação dos processos de corrupção que corriam contra ele, decisão que foi tomada no início de maio.

Direitos Humanos

Além da reintegração à OEA, a volta de Zelaya reabre a discussão sobre os direitos humanos em Honduras. Entretanto, a visão da dirigente do Copinh (Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras), Berta Cáceres, é pessimista. "O regresso de Manuel Zelaya não mudará a situação de direitos humanos em Honduras", disse em entrevista para a Radio del Sur.

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Para ela, a volta do ex-presidente se dá em um momento crítico da história do país, quando "a repressão, os ataques aos jovens, as ameaças contra o movimento campesino, a pressão das transnacionais e a militarização continuam e ganham força". "Estamos vivendo a calamidade da violência política e da impunidade", disse.

Cáceres acredita que a situação de direitos humanos em Honduras deve ser discutida internacionalmente e que a volta de Zelaya deveria servir como forma de impulsionar este debate.

A dirigente do Copinh denunciou ainda que os opositores a Zelaya estão tentando se articular para impedir que o povo se reúna em Tegucigalpa para recebê-lo e alertou que aceitar a reintegração de Honduras à OEA mediante o comando do atual presidente Porifio Lobo é "deixar um golpe de Estado impune e humilhar todo um país".

"Os golpistas são capazes inclusive de fazer um novo complô contra Manuel Zelaya. Estamos confiantes. Nosso chamado é para o povo hondurenho tomar cuidado porque não podemos nos aliar a uma política repressora. A segurança de Zelaya é outra coisa que nos preocupa", acrescentou.

Em entrevista à La Voz de las Madres de Argentina, o dirigente da FNRP, Rafael Alegría, concordou com Cáceres e classificou a situação dos direitos humanos em Honduras como "crítica". Segundo ele, mesmo após a criação do Comitê de Verificação por colombianos e venezuelanos para verificar possíveis violações, ainda há "muita repressão".

O dirigente ainda denunciou que camponeses continuam sendo assassinados e que cerca de 20 professores estão em greve de fome porque seus direitos trabalhistas não estão sendo respeitados. O atual governo de Porfirio Lobo, sucessor do ditador Roberto Micheletti, foi acusado, em reiteradas ocasiões, de repressão e perseguição política.

Representatividade

Apesar do receio, Cáceres considera o retorno de Zelaya a Honduras "um fenômeno". "Nas zonas rurais e indígenas há uma mobilização impressionante desde ontem. Nesta sexta-feira, centenas de ônibus começaram a se organizar para participar do ato de boas-vindas ao ex-presidente", contou a dirigente do Copinh.

Alegría é ainda mais otimista e acredita que a volta de Zelaya irá "unificar o nosso povo e construir uma aliança política que nos conduza à conquista do poder político". Em entrevista à imprensa argentina, Alegría afirmou que a volta de Zelaya, ajudará a construir uma "grande coalizão para desafiar o poder político" e que o povo hondurenho está "muito alegre" por recebê-lo.

Brasil

Para acompanhar o retorno de Zelaya, Brasil enviará o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, como representante oficial. “Vou lá, simplesmente, acompanhar essa missão de funcionários latino-americanos e, com isso, celebrar o acordo que nós estamos lutando a tanto tempo”, afirmou Garcia na entrevista coletiva concedida pelos chanceleres Antonio Patriota, do Brasil, e Trinidad Jiménez, da Espanha, no Palácio do Itamaraty.

Para ele, o retorno de Zelaya e a reintegração de Honduras à OEA representam o reconhecimento do governo do presidente hondurenho, Porfirio Pepe Lobo. “Acho que em seguida [à chegada de Zelaya a Tegucigalpa], Honduras será reintegrada à OEA [referindo-se à assembleia em Washington]”, disse ele.

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