Quando era com os outros era ótimo, mas agora...
Quando os protestos pareciam ser só contra o governo a Globo comemorava. Ela riu quando eles invadiram o congresso. Mas agora quando os protestos batem em sua porta, haja medo!
Blog do Miro
Por Altamiro Borges
O Globo publicou neste sábado (31) um artigo que entrará para a história
da mídia nativa. O jornal finalmente assume que o "apoio editorial ao
golpe de 64 foi um erro" - estampa já no título. O texto é maroto, cheio
de distorções históricas, mas confirma que a arrogante Rede Globo está
com medo. Medo dos protestos de rua contra o império global, que um dia
antes voltaram a ocupar os portões da emissora em vários estados. Medo
da repercussão na blogosfera das denúncias sobre a bilionária sonegação
fiscal da empresa. Medo da concorrência no setor, principalmente com a
presença das multinacionais da tecnologia, como a Google, que abocanham
gordas fatias do mercado publicitário.
Com o editorial, a famiglia Marinho tenta recuperar um pouco da
credibilidade perdida, expressa na queda da tiragem do jornal e da
audiência da emissora. O jornalão mesmo admite que os protestos de rua
estão incomodando. "Desde as manifestações de junho, um coro voltou às
ruas: 'A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura'. De fato, trata-se
de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura. Já há muitos
anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à
luz da História, esse apoio foi um erro". Mas só agora o império
confirmou o seu bárbaro crime!
O jornal garante que o texto de autocrítica já estava pronto há meses - mas quem vai acreditar num império que sempre mente e manipula? E afirma, posando de humilde: "Não lamentamos que essa publicação não tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro, necessário. Governos e instituições têm, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas. De nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando o nosso incondicional e perene apego aos valores democráticos". Só mesmo um ingênuo para acreditar nesta bravata!
Na sequência, o texto ainda tenta justificar o apoio ao golpe. "O Globo,
de fato, à época, concordou com a intervenção militar, ao lado de
outros grandes jornais, como 'O Estado de S.Paulo', 'Folha', 'Jornal do
Brasil' e o 'Correio da Manhã', para citar apenas alguns. Fez o mesmo
parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações e
passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais. Naqueles
instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de outro
golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de
sindicatos - Jango era criticado por tentar instalar uma 'república
sindical' - e de alguns segmentos das Forças Armadas".
O Globo só não confessa que ajudou a criar o clima para o golpe militar,
que investiu pesado para desestabilizar um governo democraticamente
eleito e que manipulou para incitar a classe "mérdia". O jornal também
nada fala sobre a conspiração orquestrada pelo governo dos EUA, pelo
latifúndio e por grandes empresários contras as "reformas de base"
anunciadas por Jango. Um complô em que a imprensa, historicamente
reacionária, teve papel determinante. Pesquisas da época indicam que
João Goulart tinha o apoio da maioria da sociedade. Mas o "partido da
imprensa golpista" fez de tudo para derrubá-lo e para instalar uma
ditadura sanguinária no país.
O editorial ainda afirma que "naquele contexto, o golpe, chamado de
'Revolução', termo adotado pelo Globo durante muito tempo, era visto
como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia". O jornal
nada fala sobre os seus vínculos estreitos com os generais golpistas e
os torturadores e assassinos da ditadura. Não explica como a famiglia
Marinho construiu seu poderoso império com o apoio do regime militar. No
maior cinismo, ainda insinua que ajudou na luta pela democratização do
país. "Nos vinte anos durante os quais a ditadura perdurou, O Globo, nos
períodos agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos militares,
sempre cobrou deles o restabelecimento, no menor prazo possível, da
normalidade democrática".
O Globo não explica porque escondeu a campanha das Diretas-Já, tornando
um ato da campanha numa "festa de aniversário" de São Paulo; porque
maquiou Collor de Mello como o "caçador de marajás' para derrotar o
operário Lula nas eleições presidenciais; porque foi o baluarte do
projeto destrutivo e regressivo do neoliberalismo no triste reinado de
FHC. Também nada fala sobre a sua ofensiva para "sangrar" de Lula e da
sua campanha descarada contra a eleição de Dilma Rousseff.
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