17 de Jul de 2013 | 18:15
Por: Fernando Brito
- Jornalista não é notícia!
Mas, agora que os jornais se esmeram na seletividade da notícia, encobrindo e escondendo aquelas que são negativas para a mídia empresarial e seus políticos “do coração”, os jornalistas que mantêm o saudável hábito de publicar o que chega ao seu conhecimento com elementos que sustentem sua veracidade acabam virando notícia na internet.
E, nestes dias, ninguém mais personifica isso que Miguel do Rosário, coador (de pano) das noticias em seu blog O Cafezinho, responsável pela revelação do escândalo de sonegação de impostos da Rede Globo.
Miguel, que com muito orgulho é colaborador deste Tijolaço, mereceu um perfil no Diário do Centro do Mundo, que reproduzo abaixo, antes que ele me proíba de fazê-lo, dizendo que jornalista não é notícia.
As bombas de Miguel
Miguel do Rosário, autor do blog O Cafezinho,
acha que a Globo deveria lhe pagar. Para ser seu ombdusman. “Eu gosto
de escrever sobre os editoriais do Globo. Todo parágrafo tem uma
quantidade enorme de distorções, mentiras e manipulações”, diz ele.
Miguel e eu fazíamos parte de uma bancada virtual numa entrevista para a TVT.
O programa, chamado Clique Ligue, trazia um debate sobre o jornalismo
digital e o impacto das novas mídias. Seu microfone não funcionava
direito. A voz desaparecia. Mas ele não precisa de microfone. Miguel tem
uma voz na Internet. Com a decisão do Ministério Público do Distrito
Federal de abrir uma investigação sobre a sonegação de que a Globo é
acusada, isso ficou claro.
Miguel foi quem primeiro publicou cópias do processo da
Receita que cobrava a hoje notória dívida de 600 milhões de reais. Como
ele as conseguiu? No caso desse escândalo, segundo ele, o imbroglio é
cinematográfico e surreal.
Resumindo: existe uma quadrilha especializada em
subtrair esses processos. A funcionária Cristina Maris Meinick Ribeiro
faria parte desse grupo. Eles teriam pedido 15 milhões de reais para
passar o resultado do furto a um “cliente”. Houve um encontro, que
acabou mal sucedido. Os papéis teriam ido parar nas mãos do motorista do
bando. Dele para uma outra pessoa, que os ofereceu a Miguel.
“O cara me conhecia pelo Cafezinho e fez o contato. Ele
pensou em dar para uma revista ou jornal, mas achava, com razão, que a
coisa seria abafada por causa do pacto de silêncio da mídia. Se tivesse
publicado ali, não teria o mesmo efeito. A imprensa denuncia o governo o
tempo inteiro. Mas a imprensa não denuncia a imprensa”.
Na sequencia do furo, o advogado Edu Goldenberg
encontrou a ação que pedia a prisão de Cristina Maris. De acordo com
Miguel, ela é casada e mora em Copacabana com a mãe. “O marido achou que
eles iam ganha uma grana com isso. Cristina é mequetrefe no esquema.
Tem cara de que é coisa bem maior”, afirma. “Minha fonte sabia que eu
fazia parte de uma rede, que não estava sozinho. Tenho a blogosfera do
meu lado”.
O nome do blog não é à toa. Miguel é especialista na,
como diria um crítico gastronômico entojado, infusão rubiácea. Seu pai,
José Barbosa do Rosário trabalhou na Globo por 15 anos nessa área.
Montou uma revista e, depois, uma newsletter sobre o assunto. Os
negócios iam bem até que, ironicamente, a Internet surgiu com milhares
de páginas dedicadas a café. O velho morreu em 2001 e Miguel deu
continuidade por um tempo. “Até que cansei de rever aquelas caras de
sempre desse mercado. Mantive o nome, mas resolvei escrever sobre
política”.
Aos 38 anos, ele não militou na mídia tradicional. Já
tinha visto o que chama de “proletarização” da profissão. Mora na Lapa
com a mulher. Afirma que tem mais “bombas” nas mãos (acabou de publicar
um post segundo o qual Joaquim Barbosa teria recebido 700 mil reais da
UERJ sem trabalhar). “Eu não sou fixado em denúncias. As coisas chegam
até mim. Hoje essa matéria da Globo é de domínio público e está sendo
acompanhada por jornalistas mais experientes do que eu”.
Um aviso importante: “Compre sempre o café mais suave no
supermercado. A torração é mais leve e as qualidades são preservadas. O
melhor lugar pra tomar, aqui no Rio, é o Armazem do Café, em Ipanema”.
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