Protesto 'Contra a Corrupção' é incompleto
Sidney Rezende | Sidney Rezende | 20/09/2011 21h36
As manifestações que pipocam em algum propósitas capitais brasileiras com oo de ser um movimento de protesto "Contra a Corrupção" partem de uma premissa falsa e incompleta.É óbvio que um grupo expressivo de políticos habitam um covil onde é comum se praticar o "mal feito", como diz a presidente Dilma Rousseff. E é mais óbvio ainda que esta canalhada precisa ser denunciada.
Ocorre que estes movimentos "Contra a Corrupção" caem como uma luva para derrotados nas urnas que precisam tirar alguma vantagem destas manifestações moralistas.
E mais, por que os "indignados" não começam a listar os corruptores? Estes sim são os que manobram os títeres de mão grande que usurpam os cofres públicos.
Não duvidemos que existam presidentes e diretores de grandes empresas, ou mesmo médias, que tiram vantagens para suas organizações.
Durante o governo Collor, vasculharam a vida do caixa de campanha do presidente, Paulo César Farias, o PC, e logo, logo, rapidinho, apagaram os nomes dos executivos das montadoras "nacionais" que drenaram o duto para sustentar o poder collorido.
A crença destes empresários sempre foi a de se beneficiarem das medidas patrocinadas por quem foi apoiado por eles. Primeiro, financiam as campanhas e, depois, esperam tranquilos os contratos. Muitas vezes sem licitação.
A maior corrupção está nas áreas de saúde e transporte. Quem sentirá falta de alguns milhões de reais, pensam os larápios. E tome desvio. Dizem que a área esportiva é a boa do momento. Os ratinhos estão com os dentinhos afiados.
O ex-ministro Antonio Pallocci saiu sob suspeita de enriquecimento meteórico e de difícil justificativa. E tudo ficou por isso mesmo. Até o publicitário Delúbio Soares deve escapar numa boa.
Outro dia, um leitor aqui no espaço de comentários do blog escreveu que rico não vai para a cadeia e que a punição é só para pobre. Alguém tem coragem de discutir com ele?
O Brasil não valoriza o mérito. Ainda é a terra da "Casa Grande" e "Senzala". Quem vem debaixo não pode vencer. Por isso movimentos contra a corrupção preferem alvejar o genérico "político" e não o específico "corruptor privado". Os "empresários" são bacanas e do primeiro andar.
E, se alguém tiver coragem de enfrentá-los, a grande mídia não cobre, não é mesmo?
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Caro Barcelos: "Faço jornalismo, não militância política"
Não poderia deixar de abordar um belo momento do jornalismo brasileiro, a prova definitiva de que não se pode discriminar profissionais que, até por falta de opção, trabalham para o oligopólio pretensamente imperial e antidemocrático que domina a comunicação no Brasil.
Na terça-feira (20), por volta das 19 horas, foi ao ar o programa da emissora a cabo Globo News, o “Em Pauta”, apresentado pelo jornalista Sergio Aguiar, que entrevistou o jornalista Caco Barcelos e teve a participação virtual da jornalista Eliane Cantanhêde.
O começo da entrevista deixa bastante claro que Barcelos, um repórter renomado e corajoso, não seria presa fácil para a manipulação de seus empregadores. Reproduzo, a seguir, esse diálogo entre entrevistador e entrevistado.
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Sergio Aguiar — Vamos explorar esse seu lado repórter, primeiro: como é que estava a manifestação, lá?
Caco Barcelos — Três mil pessoas me parecem uma forte manifestação “virtual”; o Facebook fala mais de 30 mil pessoas. Na rua, na praça, pouco. Por volta de três mil…
Aguiar — Foi mais “devagar” do que se esperava, então?
(…)
Barcelos — É interessante, não é, o pessoal com vassoura? Eu lembro do tempo do Jânio Quadros. O pessoal usava vassoura para “varrer os comunistas”, queriam um regime militar… Não é?
Aguiar — A Vassoura volta, agora, a entrar na moda, será?
Barcelos — Talvez com outra conotação…
(…)
Barcelos — Interessante, também, que ninguém protesta contra os corruptores; só contra os corruptos… (sorriso)
Aguiar — Agora, você acha que essa mobilização menor do que o esperada [sic] é porque o brasileiro está um pouco descrente?
Barcelos — Não sei te dizer…
(…)
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A Globo mutilou esse belo momento de coragem de um militante do bom jornalismo, responsável, apartidário, e que, dali em diante, travaria com Eliane Cantanhêde um diálogo que constitui um dos mais completos diagnósticos da crise por que passa a grande imprensa brasileira.
No site do programa “Em Pauta”, a Globo cortou o resto da entrevista, quando Barcelos diz a Cantanhêde tudo o que tem sido dito pelos que militam pela democratização da comunicação no Brasil. Falou sobre os assassinatos de reputação, do “jornalismo declaratório”, que distribui acusações que, posteriormente, não são comprovadas, o que faz com que gente inocente pague.
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Cantanhêde ainda tentou argumentar que a denúncia da mídia contra o ex-ministro Antonio Palocci, por exemplo, revelou-se “verdadeira” porque se descobriu que ele tinha um apartamento de 6 milhões de reais e, apesar disso, viveria em um apartamento alugado por uma imobiliária que tentou caracterizar como suspeita, apesar de que tal denúncia jamais se mostrou verdadeira.
Barcelos disse a ela que discorda porque faz jornalismo e não “militância política”. E reiterou que há vários exemplos de casos em que a mídia acusou sem provas e as pessoas acusadas, depois, mostraram-se inocentes.
A censura que a Globo impôs a parte da entrevista insinua que Barcelos pode ter problemas. Não será surpresa se, apesar de seu currículo invejável, vier a se juntar outros que tiveram que deixar a Globo por discordarem do patrão.
Resta dizer que, apesar de haver quem julgue que essas manifestações “contra a corrupção” não passam de militância política da mídia, como bem definiu Barcelos, ele parece se deixar seduzir pela idéia de que a mídia tentar pôr o povo na rua lembra os idos de 1964…
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