Blog do Sakamoto
Quando publiquei a primeira versão do “Disk Fonte: o jornalismo papagaio de repetição” não imaginei que ele acabaria sendo usado até em faculdades de jornalismo. Portanto, a pedidos, eu e os dois colegas que organizamos as listas iniciais fizemos uma atualização e trazemos novamente as fontes que todos amamos e, por isso, usamos ad nauseam.
Não existe imparcialidade jornalística. Qualquer estudante de jornalismo aprende isso nas primeiras aulas. Quando você escolhe um entrevistado e não outro está fazendo uma opção, racional ou não, por isso a importância de ouvir a maior diversidade de fontes possível sobre determinado tema. Fazer uma análise ou uma crítica tomando partido não é o problema, desde que não se engane o leitor, fazendo-o acreditar que aquilo é imparcial.
Infelizmente, muitos veículos ou jornalistas que se dizem imparciais, optam sistematicamente por determinadas fontes, sabendo como será a análise de determinado fato. Parece até que procuram o especialista para que legitime um ponto de vista. Ou têm preguiça de ir além e fugir da agenda da redação, refrescando suas matérias com análises diferentes. Dois amigos, grandes jornalistas com anos de estrada, ajudaram a fazer uma lista exemplar do que estou falando.
Vale ressaltar que boa parte destas fontes são especialistas sérios, reconhecidos em seus campos de atuação e que já deram importantes contribuições à sociedade. Como disse um desses amigos, terem determinadas posições não os descredencia. O problema são algumas mídias que sempre, sempre, sempre procuram esses mesmos caras para repercutir. Sempre eles. E somente eles.
Façam um teste e procurem esses nomes no seu jornal, revista, rádio, TV, sites preferidos…
Aos nomes:
Questões trabalhistas? Disk Pastore
(O sociólogo José Pastore, mas sem dizer de suas consultorias para empresários que têm interesse direto no assunto)
Constitucionalismos? Disk Ives Gandra
(O respeitável jurista do Opus Dei não vacila jamais)
Ética? Disk Romano
(O professor de filosofia Roberto Romano)
Questões sindicais? Disk Leôncio
(O cientista político Leôncio Martins Rodrigues)
Ética na política? Disk Álvaro Dias
(O senador Álvaro Dias – que disputa pau a pau com Demóstenes Torres. Só dá eles na oposição)
Ética dos juros? Disk Eduardo Giannetti
(O professor é quase um gênio)
Pau no Lula? Disk Marco Antônio Villa
(Historiador. Tiro e queda. Mais pau no Lula? Disk Lúcia Hippólito – com a vantagem de ter sido escolhida como uma das meninas do Jô)
Relações internacionais? Disk Rubens Barbosa
(Ex-embaixador. Precisa diversificar? Disk Celso Lafer, o ex-chanceler)
Mercado financeiro? Disk Arminio Fraga, o ex-BC
(Não rolou? Disk Gustavo Loyola? Ocupado? Ah, então vamos no Disk Maílson mesmo)
Segurança pública? Disk Zé Vicente
(Ele é durão, estava lá dentro, mas fala como sociólogo. E com a vantagem de não ficar falando em direitos humanos para qualquer “resistência seguida de morte”. É o coronel esclarecido)
Partidos? PT especificamente? Disk Bolívar
(O cientista político Bolívar Lamounier, mas, por favor, não diga que ele é filiado a partido político)
Contas Públicas? Disk Raul Velloso
(O economista critica os gastos. Qualquer gasto)
Telecomunicações? Disk Ethevaldo Siqueira
(É o jornalista que mais conhece o fascinante mundo da telefonia privatizada, mas, ao citá-lo, só não diga que ele dá consultoria para empresas da área)
Previdência? Disk Fabio Giambiaggi
(Aproveite e fale um pouco da perseguição que ele sofreu no “aparelhado” Ipea…)
MST? Reforma Agrária? Disk Jungmann
(O deputado e ex-ministro Raul Jungmann só abandona sua cruzada quando o assunto é Daniel Dantas)
Educação? Disk Claudio Moura e Castro
(Sabe tudo de ensino privado. Se o telefone estiver ocupado, ligue para o jovem Gustavo Ioschpe)
Geografia? História? Demografia? Sociologia? Socialismo? Política? Geopolítica? Raça? Relações internacionais? Coréia? Pré-sal? Irmandade Muçulmana? Cotas? Mensalão? América Latina? MST? Pugilistas cubanos? Liberdade de imprensa? Farc? Irã? Líbia? Síria? Governo Dilma? Celso Amorim? Disk Demétrio Magnoli
(É a fonte universal. Os jornalistas têm no professor um dos seus números sem limite de ligação nos planos de telefonia)
Este Blog é uma mídia alternativa e um contraponto à grande imprensa. Quando digo grande imprensa quero me referir a essa meia dúzia de jornais e revistas de grande circulação que abertamente discriminam o Presidente Lula e seu Governo. Escreverei também algumas tagarelices sobre Política, Economia e outros assuntos gerais de acordo com minhas idéias e pensamentos. "Apoio Dilma Presidente"
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
A "criatividade" de Veja
Direto da Redação
Final da década de setenta. O professor de jornalismo de uma conhecida faculdade carioca ensina que o bom jornalista deve usar de toda criatividade para obter uma informação privilegiada sobre algo ou alguém que esteja sob seu foco investigativo.
Até ai, tudo bem. Afinal, criatividade é qualidade que tem espaço em qualquer atividade profissional. No caso específico do jornalismo, é de indagar-se até onde a "criatividade" do repórter não ultrapassa os limites do direito à privacidade de uma pessoa, seja ela quem for.
No caso do professor carioca, ele deu como exemplo de criatividade uma antiga reportagem da revista Veja, na qual o repórter colheu informações do investigado, a partir do que encontrou em seu saco de lixo.
Maravilhados com a “esperteza” do repórter – que “molhou a mão” do funcionário do condomínio para apoderar-se do mencionado lixo - os jovens universitários aprenderam naquela aula que vale tudo para se obter uma informação sobre a pessoa que está sendo investigada. Afinal, em um saco de lixo era possível descobrir-se os hábitos de alguém, desde a preferência por comidas e bebidas, até, eventualmente, extratos bancários e de lojas comerciais que expõem a situação financeira do cidadão, o que ele compra, onde compra e quanto gasta. Sem falar de eventais revelações sobre as preferências politico-ideológicas e sentimentais da pessoa.
Claro, isso foi na década de 70. Nos dias de hoje, depois do advento da internet, com os papéis substituídos por informações digitalizadas que ficam guardadas na memória da máquina, o lixo já não tem a mesma importância estratégica de antigamente.
Agosto de 2011. Quase quarenta anos depois da aula do professor universitário, Veja segue a mesma política de incentivar a “criatividade” de seus repórteres.
Um deles, investigando as atividades de José Dirceu para a reportagem desta semana, registrou-se em uma suite do Hotel Nahoun, exatamente ao lado daquela em que se hospeda regularmente o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, para fiscalizar seus passos e descobrir quem são os politicos que o visitam quando ele está em Brasília.
Acontece que o repórter extrapolou em sua “criatividade”. Tentou enganar a camareira, pedindo que ela abrisse a porta da suite de Dirceu, alegando que nela estava hospedado e tinha perdido a chave. Se deu mal. A camareira desconfiou e informou a direção do hotel sobre uma possível tentativa de invasão.
Vendo que a situação podia se complicar para ele, o repórter fugiu sem fazer fazer o check out e sem pagar a diária. O hotel lavrou a ocorrência em um boletim no 5° DP de Brasília.
É possível que alguns leitores da coluna concordem com os métodos empregados pela revista e fiquem tão maravilhados como ficaram os alunos daquela aula sobre jornalismo investigativo, sobretudo por tratar-se de quem é a pessoa investigada.
Sabendo-se do passado de Veja, entretanto, e das causas que abraça, não chega a surpreender esse tipo de jornalismo praticado pela revista. São muitos os entrevistados de Veja que se queixam de que suas declarações foram deturpadas, pelo mesmo método usado na televisão: a edição. Nesse caso, do texto. É só pinçar uma frase e juntá-la a outra, dita em contexto diferente, e você terá uma informação deformada, mentirosa. Por isso, quando se trata de Veja, os entrevistados mais experientes exigem que tudo que foi dito seja gravado.
Sei da história de uma poetisa, entrevistada por Veja dias antes do lançamento de seu livro. Além de mutilada a entrevista, para fazer a crítica do livro, a revista selecionou versos isolados de poemas que soam desimportantes e até ingênuos quando não lidos no contexto da poesia.
Veja não mudou desde aquela aula naquela longínqua década de setenta, mas mudaram os leitores. Quase quarenta anos depois, o número de pessoas que se deixam enganar por Veja é muito menor. Afinal, o povo não é bobo...
Final da década de setenta. O professor de jornalismo de uma conhecida faculdade carioca ensina que o bom jornalista deve usar de toda criatividade para obter uma informação privilegiada sobre algo ou alguém que esteja sob seu foco investigativo.
Até ai, tudo bem. Afinal, criatividade é qualidade que tem espaço em qualquer atividade profissional. No caso específico do jornalismo, é de indagar-se até onde a "criatividade" do repórter não ultrapassa os limites do direito à privacidade de uma pessoa, seja ela quem for.
No caso do professor carioca, ele deu como exemplo de criatividade uma antiga reportagem da revista Veja, na qual o repórter colheu informações do investigado, a partir do que encontrou em seu saco de lixo.
Maravilhados com a “esperteza” do repórter – que “molhou a mão” do funcionário do condomínio para apoderar-se do mencionado lixo - os jovens universitários aprenderam naquela aula que vale tudo para se obter uma informação sobre a pessoa que está sendo investigada. Afinal, em um saco de lixo era possível descobrir-se os hábitos de alguém, desde a preferência por comidas e bebidas, até, eventualmente, extratos bancários e de lojas comerciais que expõem a situação financeira do cidadão, o que ele compra, onde compra e quanto gasta. Sem falar de eventais revelações sobre as preferências politico-ideológicas e sentimentais da pessoa.
Claro, isso foi na década de 70. Nos dias de hoje, depois do advento da internet, com os papéis substituídos por informações digitalizadas que ficam guardadas na memória da máquina, o lixo já não tem a mesma importância estratégica de antigamente.
Agosto de 2011. Quase quarenta anos depois da aula do professor universitário, Veja segue a mesma política de incentivar a “criatividade” de seus repórteres.
Um deles, investigando as atividades de José Dirceu para a reportagem desta semana, registrou-se em uma suite do Hotel Nahoun, exatamente ao lado daquela em que se hospeda regularmente o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, para fiscalizar seus passos e descobrir quem são os politicos que o visitam quando ele está em Brasília.
Acontece que o repórter extrapolou em sua “criatividade”. Tentou enganar a camareira, pedindo que ela abrisse a porta da suite de Dirceu, alegando que nela estava hospedado e tinha perdido a chave. Se deu mal. A camareira desconfiou e informou a direção do hotel sobre uma possível tentativa de invasão.
Vendo que a situação podia se complicar para ele, o repórter fugiu sem fazer fazer o check out e sem pagar a diária. O hotel lavrou a ocorrência em um boletim no 5° DP de Brasília.
É possível que alguns leitores da coluna concordem com os métodos empregados pela revista e fiquem tão maravilhados como ficaram os alunos daquela aula sobre jornalismo investigativo, sobretudo por tratar-se de quem é a pessoa investigada.
Sabendo-se do passado de Veja, entretanto, e das causas que abraça, não chega a surpreender esse tipo de jornalismo praticado pela revista. São muitos os entrevistados de Veja que se queixam de que suas declarações foram deturpadas, pelo mesmo método usado na televisão: a edição. Nesse caso, do texto. É só pinçar uma frase e juntá-la a outra, dita em contexto diferente, e você terá uma informação deformada, mentirosa. Por isso, quando se trata de Veja, os entrevistados mais experientes exigem que tudo que foi dito seja gravado.
Sei da história de uma poetisa, entrevistada por Veja dias antes do lançamento de seu livro. Além de mutilada a entrevista, para fazer a crítica do livro, a revista selecionou versos isolados de poemas que soam desimportantes e até ingênuos quando não lidos no contexto da poesia.
Veja não mudou desde aquela aula naquela longínqua década de setenta, mas mudaram os leitores. Quase quarenta anos depois, o número de pessoas que se deixam enganar por Veja é muito menor. Afinal, o povo não é bobo...
domingo, 28 de agosto de 2011
Tentativa de invasão do quarto de Dirceu por repórter de Veja vira piada na internet
Rede Brasil Atual
São Paulo – A tentativa de invasão do quarto de hotel do ex-ministro José Dirceu por um repórter da revista Veja virou motivo de piada na internet. O tópico #VejaInvaders ocupou neste sábado (28) a lista de assuntos mais comentados na rede social Twitter.
No geral, os comentários oscilaram entre o cômico e o crítico. “Antigamente jornalistas usavam papel e caneta; depois, celular e Ipad; agora usam chave-mestra e pé de cabra”, registrou o usuário Maurício Caleiro. “@veja, por favor, invada o quarto do meu professor de processo civil,quero saber o que ira cair na prova!!!”, ironizou Thiago Dias Bitelli. “Seu repórter, vou viajar. Se o sr. vier aqui enxague umas cuecas que vou deixar no tanque. Ah, tem frango na geladeira”, acrescentou Gerson Carneiro, outro usuário.
De acordo com carta publicada no blog do ex-ministro, e que até o momento não foi desmentida pela publicação, o repórter Gustavo Nogueira Ribeiro empreendeu ao menos duas tentativas frustradas de invadir o quarto no hotel Naoum, em Brasília, onde está hospedado. “O @gnribeiro passou recibo quando fugiu do hotel sem pagar a conta. Repórter-invasor-caloteiro”, registrou Stanley Burburinho, influente perfil do microblog, para quem Veja queria implantar escutas no dormitório.
Na primeira tentativa, Ribeiro alegou a uma camareira que estava hospedado no mesmo quarto do ex-ministro. A funcionária não apenas lhe negou a chave como o denunciou à equipe de segurança do hotel. O repórter teria passado então a uma segunda investida, na qual afirmou ser um empresário do interior paulista que queria deixar documentos dentro do quarto de Dirceu. “Os procedimentos da Veja se assemelham a escândalo recentemente denunciado na Inglaterra”, ponderou o político, fazendo referência ao caso do tablóide News of the World, fechado depois que veio à tona que se valia de escutas telefônicas ilegais na apuração de reportagens.
“Se você assina Veja está apoiando atos terroristas, e o jornalismo de esgoto, cancele essa assinatura”, defendeu o bancário José Geraldo Filho em comentário no Twitter. Vários usuários se somaram aos pedidos para que seja investigada a revista e se abra uma discussão profunda sobre o papel da mídia no país.
Denúncias
A edição desta semana da publicação da editora Abril dedica sua reportagem de capa à tentativa de mostrar que Dirceu segue atuante em Brasília. A publicação afirma ter obtido acesso a imagens do circuito interno de segurança do hotel que mostram encontros com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e senadores do PT e do PDMB. Para Veja, o ex-ministro tenta “conspirar contra o governo Dilma” e “infiltrar aliados no governo federal”.
São Paulo – A tentativa de invasão do quarto de hotel do ex-ministro José Dirceu por um repórter da revista Veja virou motivo de piada na internet. O tópico #VejaInvaders ocupou neste sábado (28) a lista de assuntos mais comentados na rede social Twitter.
No geral, os comentários oscilaram entre o cômico e o crítico. “Antigamente jornalistas usavam papel e caneta; depois, celular e Ipad; agora usam chave-mestra e pé de cabra”, registrou o usuário Maurício Caleiro. “@veja, por favor, invada o quarto do meu professor de processo civil,quero saber o que ira cair na prova!!!”, ironizou Thiago Dias Bitelli. “Seu repórter, vou viajar. Se o sr. vier aqui enxague umas cuecas que vou deixar no tanque. Ah, tem frango na geladeira”, acrescentou Gerson Carneiro, outro usuário.
De acordo com carta publicada no blog do ex-ministro, e que até o momento não foi desmentida pela publicação, o repórter Gustavo Nogueira Ribeiro empreendeu ao menos duas tentativas frustradas de invadir o quarto no hotel Naoum, em Brasília, onde está hospedado. “O @gnribeiro passou recibo quando fugiu do hotel sem pagar a conta. Repórter-invasor-caloteiro”, registrou Stanley Burburinho, influente perfil do microblog, para quem Veja queria implantar escutas no dormitório.
Na primeira tentativa, Ribeiro alegou a uma camareira que estava hospedado no mesmo quarto do ex-ministro. A funcionária não apenas lhe negou a chave como o denunciou à equipe de segurança do hotel. O repórter teria passado então a uma segunda investida, na qual afirmou ser um empresário do interior paulista que queria deixar documentos dentro do quarto de Dirceu. “Os procedimentos da Veja se assemelham a escândalo recentemente denunciado na Inglaterra”, ponderou o político, fazendo referência ao caso do tablóide News of the World, fechado depois que veio à tona que se valia de escutas telefônicas ilegais na apuração de reportagens.
“Se você assina Veja está apoiando atos terroristas, e o jornalismo de esgoto, cancele essa assinatura”, defendeu o bancário José Geraldo Filho em comentário no Twitter. Vários usuários se somaram aos pedidos para que seja investigada a revista e se abra uma discussão profunda sobre o papel da mídia no país.
Denúncias
A edição desta semana da publicação da editora Abril dedica sua reportagem de capa à tentativa de mostrar que Dirceu segue atuante em Brasília. A publicação afirma ter obtido acesso a imagens do circuito interno de segurança do hotel que mostram encontros com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e senadores do PT e do PDMB. Para Veja, o ex-ministro tenta “conspirar contra o governo Dilma” e “infiltrar aliados no governo federal”.
sábado, 27 de agosto de 2011
Repórter da Veja é flagrado em atividade criminosa
Vermelho
Depois de abandonar todos os critérios jornalísticos, a revista Veja, por meio de um de seus repórteres, também abriu mão da legalidade e, numa prática criminosa, tentou invadir o apartamento no qual costumeiramente me hospedo em um hotel de Brasília.
Por José Dirceu
O ardil começou na tarde dessa quarta-feira (24), quando o jornalista Gustavo Nogueira Ribeiro, repórter da revista, se registrou na suíte 1607 do Hotel Nahoum, ao lado do quarto que tenho reservado. Alojado, sentiu-se à vontade para planejar seu próximo passo. Aproximou-se de uma camareira e, alegando estar hospedado no meu apartamento, simulou que havia perdido as chaves e pediu que a funcionária abrisse a porta.
O repórter não contava com a presteza da camareira, que não só resistiu às pressões como, imediatamente, informou à direção do hotel sobre a tentativa de invasão. Desmascarado, o infrator saiu às pressas do estabelecimento, sem fazer check out e dando calote na diária devida, ainda por cima. O hotel registrou a tentativa de violação de domicílio em boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial.
A revista não parou por aí.
O jornalista voltou à carga. Fez-se passar por assessor da Prefeitura de Varginha, insistindo em deixar no meu quarto "documentos relevantes". Disse que se chamava Roberto, mas utilizou o mesmo número de celular que constava da ficha de entrada que preencheu com seu verdadeiro nome. O golpe não funcionou porque minha assessoria estranhou o contato e não recebeu os tais “documentos”.
Os procedimentos da Veja se assemelham a escândalo recentemente denunciado na Inglaterra. O tablóide News of the Word tinha como prática para apuração de notícias fazer escutas telefônicas ilegais. O jornal acabou fechado, seus proprietários respondem a processo, jornalistas foram demitidos e presos.
No meio da tarde da quinta-feira, depois de toda a movimentação criminosa do repórter Ribeiro para invadir meu apartamento, outro repórter da revista Veja entrou em contato com o argumento de estar apurando informações para uma reportagem sobre minhas atividades em Brasília.
Invasão de privacidade
O jornalista Daniel Pereira se achou no direito de invadir minha privacidade e meu direito de encontrar com quem quiser e, com a pauta pronta e manipulada, encaminhou perguntas por e-mail já em forma de respostas para praticar, mais uma vez, o antijornalismo e criar um factóide. Pereira fez três perguntas:
1 – Quando está em Brasília, o ex-ministro José Dirceu recebe agentes públicos – ministros, parlamentares, dirigentes de estatais – num hotel. Sobre o que conversam? Demandas empresariais? Votações no Congresso? Articulações políticas?
2 – Geralmente, de quem parte o convite para o encontro – do ex-ministro ou dos interlocutores?
3 – Com quais ministros do governo Dilma o ex-ministro José Dirceu conversou de forma reservada no hotel? Qual o assunto da conversa?
Preparação de uma farsa
Soube, por diversas fontes, que outras pessoas ligadas ao PT e ao governo foram procuradas e questionadas sobre suas relações comigo. Está evidente a preparação de uma farsa, incluindo recurso à ilegalidade, para novo ataque da revista contra minha honra e meus direitos.
Deixei o governo, não sou mais parlamentar. Sou cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário. Essas atribuições me concedem o dever e a legitimidade de receber companheiros e amigos, ocupem ou não cargos públicos, onde quer que seja, sem precisar dar satisfações à Veja acerca de minhas atividades. Essa revista notoriamente se transformou em um antro de práticas antidemocráticas, a serviço das forças conservadoras mais venais.
Depois de abandonar todos os critérios jornalísticos, a revista Veja, por meio de um de seus repórteres, também abriu mão da legalidade e, numa prática criminosa, tentou invadir o apartamento no qual costumeiramente me hospedo em um hotel de Brasília.
Por José Dirceu
O ardil começou na tarde dessa quarta-feira (24), quando o jornalista Gustavo Nogueira Ribeiro, repórter da revista, se registrou na suíte 1607 do Hotel Nahoum, ao lado do quarto que tenho reservado. Alojado, sentiu-se à vontade para planejar seu próximo passo. Aproximou-se de uma camareira e, alegando estar hospedado no meu apartamento, simulou que havia perdido as chaves e pediu que a funcionária abrisse a porta.
O repórter não contava com a presteza da camareira, que não só resistiu às pressões como, imediatamente, informou à direção do hotel sobre a tentativa de invasão. Desmascarado, o infrator saiu às pressas do estabelecimento, sem fazer check out e dando calote na diária devida, ainda por cima. O hotel registrou a tentativa de violação de domicílio em boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial.
A revista não parou por aí.
O jornalista voltou à carga. Fez-se passar por assessor da Prefeitura de Varginha, insistindo em deixar no meu quarto "documentos relevantes". Disse que se chamava Roberto, mas utilizou o mesmo número de celular que constava da ficha de entrada que preencheu com seu verdadeiro nome. O golpe não funcionou porque minha assessoria estranhou o contato e não recebeu os tais “documentos”.
Os procedimentos da Veja se assemelham a escândalo recentemente denunciado na Inglaterra. O tablóide News of the Word tinha como prática para apuração de notícias fazer escutas telefônicas ilegais. O jornal acabou fechado, seus proprietários respondem a processo, jornalistas foram demitidos e presos.
No meio da tarde da quinta-feira, depois de toda a movimentação criminosa do repórter Ribeiro para invadir meu apartamento, outro repórter da revista Veja entrou em contato com o argumento de estar apurando informações para uma reportagem sobre minhas atividades em Brasília.
Invasão de privacidade
O jornalista Daniel Pereira se achou no direito de invadir minha privacidade e meu direito de encontrar com quem quiser e, com a pauta pronta e manipulada, encaminhou perguntas por e-mail já em forma de respostas para praticar, mais uma vez, o antijornalismo e criar um factóide. Pereira fez três perguntas:
1 – Quando está em Brasília, o ex-ministro José Dirceu recebe agentes públicos – ministros, parlamentares, dirigentes de estatais – num hotel. Sobre o que conversam? Demandas empresariais? Votações no Congresso? Articulações políticas?
2 – Geralmente, de quem parte o convite para o encontro – do ex-ministro ou dos interlocutores?
3 – Com quais ministros do governo Dilma o ex-ministro José Dirceu conversou de forma reservada no hotel? Qual o assunto da conversa?
Preparação de uma farsa
Soube, por diversas fontes, que outras pessoas ligadas ao PT e ao governo foram procuradas e questionadas sobre suas relações comigo. Está evidente a preparação de uma farsa, incluindo recurso à ilegalidade, para novo ataque da revista contra minha honra e meus direitos.
Deixei o governo, não sou mais parlamentar. Sou cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário. Essas atribuições me concedem o dever e a legitimidade de receber companheiros e amigos, ocupem ou não cargos públicos, onde quer que seja, sem precisar dar satisfações à Veja acerca de minhas atividades. Essa revista notoriamente se transformou em um antro de práticas antidemocráticas, a serviço das forças conservadoras mais venais.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Neocansei ou Cansei II contra a corrupção: agora é oficial, mas tô fora.
Como eu escrevi tempos atrás, o movimento golpista Cansei ressurge das cinzas agora com outro nome. Segundo o blog amigos do Lula, chama-se Cansei II. Eu prefiro chamar de Neocansei e mais uma vez tô fora. Isso é mais um golpe. Contra a corrupção temos as Policias Estaduais e Federal. Qualquer denúncia vá direito a essas Polícias.
Clique aqui para ler o meu post sobre o Neocansei.
Clique aqui para ler o post dos amigos do Lula.
Clique aqui para ler o meu post sobre o Neocansei.
Clique aqui para ler o post dos amigos do Lula.
domingo, 14 de agosto de 2011
Cameron contrata o exterminador para eliminar os manifestantes ingleses
Ante o fracasso de tentar banditizar os manifestantes frente aos conflitos dos últimos dias em Londres, o primier britânco David Cameron, resolve contratar algo do tipo "o eterminador do futuro" para resolver os problemas da violência nas ruas. Vejam abaixo 02 links sobre o assunto. Um é de autoria de Wálter Maierovitch através do site do Bob Fernandes e o outro é uma entrevista com o escritor Darcus Howe desmascarando a BBC através do site do Viomundo. A BBC hein! quem diria? já foi um ícone da imprensa antigamente, mas hoje é um PIG.
Aliás, o PIG quer banditizar todo o tipo de manisfestação. A de Londres, Espanha, Egito, Líbia, Chile, etc. mas não está colando.
Aliás, o PIG quer banditizar todo o tipo de manisfestação. A de Londres, Espanha, Egito, Líbia, Chile, etc. mas não está colando.
sábado, 13 de agosto de 2011
"A sociedade não existe, o que existe são os indivíduos": dito e feito.
Carta Maior
(Margareth Thatcher, a dama de ferro do neoliberalismo que governou a Inglaterra de 1979 a 1990. Líder da extrema direita do Partido Conservador, Thatcher desregulamentou a economia, implementou um amplo programa de privatizações, arrochou salários, reprimiu greves duramente, fechou fábricas, esfarelou o trabalho operário, elevou o número de desempregados de um milhão, no início de sua gestão, a 3 milhões em meados dos anos 80, reduziu a influencia dos conselhos salariais na economia e praticamente aboliu o salário mínimo. A julgar pelos distúrbios dos últimos dias, semeou de fato uma selva de indivíduos, furiosos, no lugar da sociedade)
(Margareth Thatcher, a dama de ferro do neoliberalismo que governou a Inglaterra de 1979 a 1990. Líder da extrema direita do Partido Conservador, Thatcher desregulamentou a economia, implementou um amplo programa de privatizações, arrochou salários, reprimiu greves duramente, fechou fábricas, esfarelou o trabalho operário, elevou o número de desempregados de um milhão, no início de sua gestão, a 3 milhões em meados dos anos 80, reduziu a influencia dos conselhos salariais na economia e praticamente aboliu o salário mínimo. A julgar pelos distúrbios dos últimos dias, semeou de fato uma selva de indivíduos, furiosos, no lugar da sociedade)
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
O fracasso neoliberal
Crônicas do Motta
O rebaixamento da dívida americana pela agência de rating Standard&Poors, na sexta-feira, detonou o estopim que pode levar a economia mundial mais perto de um grande trauma já na abertura das bolsas de valores nesta segunda-feira. Transcorridas nem ao menos três semanas desde o encontro entre chefes de governo e de Estado dos 17 países da Zona do Euro, em Bruxelas, lideres dos maiores países do planeta passaram o fim de semana trocando telefonemas para encontrar uma forma de apaziguar essa entidade chamada de "mercado". Isso porque as medidas determinadas durante a cúpula na capital belga, que visam o resgate das economias de países em dificuldades, nem ao menos foram implementadas.
Os ministros das Finanças do Grupo dos 20, que reúne os mais importantes países industrializados e emergentes, inclusive o Brasil, debateram a respeito da situação delicada. No âmbito do G-7, cogita-se uma antecipação do encontro de ministros das Finanças dos sete países mais ricos do mundo, agendado originariamente para meados de setembro.
Mais uma vez, os países da Zona do Euro depositam suas esperanças no Banco Central Europeu (BCE), instituição vista como única capaz de, no momento, acalmar os mercados financeiros, pelo menos na Europa. A compra de títulos públicos italianos poderia ser um sinal ao mercado de que a zona do euro garante os investimentos em seu território.
Um representante do BCE afirma que o presidente do banco, Jean-Claude Trichet, "pleiteia uma decisão do conselho em prol da compra de títulos italianos". Caso essa medida extremamente controversa seja realmente tomada, é possível que o BCE ou outros bancos centrais da Zona do Euro já comecem a comprar esses títulos nesta segunda-feira. O governo italiano já deu a entender que a compra de seus títulos públicos pelo BCE seria de grande ajuda para o país.
Segundo informações divulgadas pelo semanário "Spiegel", aumentam na Alemanha as suspeitas de que a economia italiana, devido a seu peso, não poderá ser salva pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), nem se ele fosse triplicado. O fundo, apontam os especialistas, foi criado para resgatar economias de países pequenos até médios, mas não da dimensão da Itália. Berlim insiste que Roma deveria tomar as devidas providências, como corte de gastos e reformas, a fim de sair da crise graças a medidas próprias.
O premiê italiano, Silvio Berlusconi, anunciou há pouco uma implementação mais rápida do pacote de redução de gastos, a fim de que o país possa apresentar um orçamento equilibrado já em 2013 e não somente em 2014, como planejado. Segundo Berlusconi, uma reforma do sistema de ajuda social deverá reduzir os gastos públicos em aproximadamente 20 bilhões de euros.
O nervosismo dos mercados financeiros vem sendo provocado pela crise da dívida pública nos EUA e na Europa. A chanceler federal alemã, Angela Mekel, falou pelo telefone na sexta-feira, durante suas férias, com outros importantes chefes de governo de países europeus e com o presidente americano, Barack Obama. Merkel e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, definiram juntos que não iriam dar declarações a respeito da crise, pelo menos por enquanto.
E assim caminha a humanidade, regida por lideranças medíocres, que são incapazes de reconhecer o fracasso da ideologia neoliberal que vêm seguindo ao longo dos anos com tanta tenacidade.
O diagnóstico de Maria da Conceição Tavares
A respeito dessa crise que se arrasta já há anos, a economista Maria da Conceição Tavares deu interessante - como sempre - entrevista à Carta Maior. Vale a pena ver o que ela pensa sobre o assunto:
Carta Maior - Há uma superposição de colapso do neoliberalismo com esfarelamento político que realimenta e reproduz o processo?
Maria da Conceição Tavares - Veja, é um colapso empírico da agenda do neoliberalismo. Avulta que a coisa é um desastre e os meus colegas economistas dessa cepa, espero, devem estar conscientes disso. Mas que poder tem os economistas? Nenhum. O poder que conta está nas em outras mãos, a dos responsáveis pela crise. Vivemos um colapso neoliberal sob o tacão dos ultra-neoliberais. Não estamos falando de gente normal, é preciso entender isso. Não são neoliberais comuns. Meu Deus, o que é isso que estão fazendo nos EUA? É a treva! Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva! E ela se espalha desagregando, corroendo.
CM—Devemos nos preparar para uma crise longa?
MCT—Sem dúvida. Por conta dessa dimensão autofágica que não enseja um desdobramento político à altura, que inaugure um novo ciclo, como foi com Roosevelt e o New Deal em 29.
CM—As bases sociais do New Deal não existem mais nos EUA?
MCT - Não existem mais. Obama é o reflexo disso. É uma liderança intrinsecamente frouxa. Não tem a impulsão trabalhista e progressista que sustentou o New Deal. É frouxo. Seu eleitorado é difuso ah, ótimo, ele se comunica com os eleitores pelo twitter, etc. E aí? É uma força difusa, desorganizada, estruturalmente à margem do poder. Está fora do poder efetivo no Congresso que é da direita, dos ricos, dos grandes bancos e grandes corporações, como vimos agora no desenho do pacote fiscal. Está fora da indústria também que foi para a China. Esse limbo estrutural é o Obama. Ele pode até ser reeleito, tomara que seja. A alternativa é amedrontadora. Mas isso não mudará a sua natureza frouxa.
CM— Se não existe o componente político que assemelhe essa crise a de 1929, então o que é isso, essa’ treva’ que estamos vivendo?
MCT— (ri) Uma treva é uma treva... O que passamos agora é distinto de tudo o que se viu em 29...Todavia não menos grave e talvez mais angustiante. É um colapso enrustido, como eu disse. Arrastado, latejante, sob o tacão de forças como essas dos ultra-neoliberais. Tampouco é um fascismo explícito, porém, como se viu na Europa, em 30. Até porque o nazismo, por exemplo, e isso não abona em nada aquela catástrofe genocida, postulava o crescimento com forte indução estatal. O que se tem hoje é o horror; um vazio político de onde emergem essas criaturas dos EUA, e coisas assemelhadas na Europa. Será uma crise longa, penosa, desagragdora, mais próxima da Depressão do final do século XIX...
CM- O declínio de um império, como foi o declínio do poder da Inglaterra no final século XIX?
MCT—Sim, é um quadro mais próximo daquele. O poder inglês foi sendo contrastado por nações com industrialização mais moderna. Um arranjo com estrutura de integração superior entre a indústria e o capital financeiro e que aos poucos ultrapassaria a hegemonia inglesa. Foi uma quebra, uma inflexão entre o capitalismo concorrencial e o capitalismo monopolista. A Inglaterra que havia sido a ‘fábrica do mundo’ perdeu o posto para o agigantamento fabril americano e alemão. Isso se arrastou por décadas. Foi uma Depressão, a primeira Depressão que tivemos no capitalismo (durou de 1873 a 1918). Levou à Primeira Guerra, que resultou na Segunda...
CM—Os EUA são a Inglaterra da nossa longa crise...
MCT - As forças que se articularam na sociedade norte-americana, basicamente forças conservadoras, de um reacionarismo profundo, não em condições de produzir uma nova hegemonia propositiva. Claro, eles tem as armas de guerra. Não é pouco, como temos visto. Vão se impor assim por mais tempo. Mas daí não sai um novo hegemon. Vamos caminhar para um poder multilateral, negociado, sujeito a contrapesos que nos livrarão de coisas desse tipo, como a ascendência do Tea Party nos EUA. Uma minoria que irradia a treva para o mundo.
(Com informações da Deutsche Welle)
O rebaixamento da dívida americana pela agência de rating Standard&Poors, na sexta-feira, detonou o estopim que pode levar a economia mundial mais perto de um grande trauma já na abertura das bolsas de valores nesta segunda-feira. Transcorridas nem ao menos três semanas desde o encontro entre chefes de governo e de Estado dos 17 países da Zona do Euro, em Bruxelas, lideres dos maiores países do planeta passaram o fim de semana trocando telefonemas para encontrar uma forma de apaziguar essa entidade chamada de "mercado". Isso porque as medidas determinadas durante a cúpula na capital belga, que visam o resgate das economias de países em dificuldades, nem ao menos foram implementadas.
Os ministros das Finanças do Grupo dos 20, que reúne os mais importantes países industrializados e emergentes, inclusive o Brasil, debateram a respeito da situação delicada. No âmbito do G-7, cogita-se uma antecipação do encontro de ministros das Finanças dos sete países mais ricos do mundo, agendado originariamente para meados de setembro.
Mais uma vez, os países da Zona do Euro depositam suas esperanças no Banco Central Europeu (BCE), instituição vista como única capaz de, no momento, acalmar os mercados financeiros, pelo menos na Europa. A compra de títulos públicos italianos poderia ser um sinal ao mercado de que a zona do euro garante os investimentos em seu território.
Um representante do BCE afirma que o presidente do banco, Jean-Claude Trichet, "pleiteia uma decisão do conselho em prol da compra de títulos italianos". Caso essa medida extremamente controversa seja realmente tomada, é possível que o BCE ou outros bancos centrais da Zona do Euro já comecem a comprar esses títulos nesta segunda-feira. O governo italiano já deu a entender que a compra de seus títulos públicos pelo BCE seria de grande ajuda para o país.
Segundo informações divulgadas pelo semanário "Spiegel", aumentam na Alemanha as suspeitas de que a economia italiana, devido a seu peso, não poderá ser salva pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), nem se ele fosse triplicado. O fundo, apontam os especialistas, foi criado para resgatar economias de países pequenos até médios, mas não da dimensão da Itália. Berlim insiste que Roma deveria tomar as devidas providências, como corte de gastos e reformas, a fim de sair da crise graças a medidas próprias.
O premiê italiano, Silvio Berlusconi, anunciou há pouco uma implementação mais rápida do pacote de redução de gastos, a fim de que o país possa apresentar um orçamento equilibrado já em 2013 e não somente em 2014, como planejado. Segundo Berlusconi, uma reforma do sistema de ajuda social deverá reduzir os gastos públicos em aproximadamente 20 bilhões de euros.
O nervosismo dos mercados financeiros vem sendo provocado pela crise da dívida pública nos EUA e na Europa. A chanceler federal alemã, Angela Mekel, falou pelo telefone na sexta-feira, durante suas férias, com outros importantes chefes de governo de países europeus e com o presidente americano, Barack Obama. Merkel e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, definiram juntos que não iriam dar declarações a respeito da crise, pelo menos por enquanto.
E assim caminha a humanidade, regida por lideranças medíocres, que são incapazes de reconhecer o fracasso da ideologia neoliberal que vêm seguindo ao longo dos anos com tanta tenacidade.
O diagnóstico de Maria da Conceição Tavares
A respeito dessa crise que se arrasta já há anos, a economista Maria da Conceição Tavares deu interessante - como sempre - entrevista à Carta Maior. Vale a pena ver o que ela pensa sobre o assunto:
Carta Maior - Há uma superposição de colapso do neoliberalismo com esfarelamento político que realimenta e reproduz o processo?
Maria da Conceição Tavares - Veja, é um colapso empírico da agenda do neoliberalismo. Avulta que a coisa é um desastre e os meus colegas economistas dessa cepa, espero, devem estar conscientes disso. Mas que poder tem os economistas? Nenhum. O poder que conta está nas em outras mãos, a dos responsáveis pela crise. Vivemos um colapso neoliberal sob o tacão dos ultra-neoliberais. Não estamos falando de gente normal, é preciso entender isso. Não são neoliberais comuns. Meu Deus, o que é isso que estão fazendo nos EUA? É a treva! Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva! E ela se espalha desagregando, corroendo.
CM—Devemos nos preparar para uma crise longa?
MCT—Sem dúvida. Por conta dessa dimensão autofágica que não enseja um desdobramento político à altura, que inaugure um novo ciclo, como foi com Roosevelt e o New Deal em 29.
CM—As bases sociais do New Deal não existem mais nos EUA?
MCT - Não existem mais. Obama é o reflexo disso. É uma liderança intrinsecamente frouxa. Não tem a impulsão trabalhista e progressista que sustentou o New Deal. É frouxo. Seu eleitorado é difuso ah, ótimo, ele se comunica com os eleitores pelo twitter, etc. E aí? É uma força difusa, desorganizada, estruturalmente à margem do poder. Está fora do poder efetivo no Congresso que é da direita, dos ricos, dos grandes bancos e grandes corporações, como vimos agora no desenho do pacote fiscal. Está fora da indústria também que foi para a China. Esse limbo estrutural é o Obama. Ele pode até ser reeleito, tomara que seja. A alternativa é amedrontadora. Mas isso não mudará a sua natureza frouxa.
CM— Se não existe o componente político que assemelhe essa crise a de 1929, então o que é isso, essa’ treva’ que estamos vivendo?
MCT— (ri) Uma treva é uma treva... O que passamos agora é distinto de tudo o que se viu em 29...Todavia não menos grave e talvez mais angustiante. É um colapso enrustido, como eu disse. Arrastado, latejante, sob o tacão de forças como essas dos ultra-neoliberais. Tampouco é um fascismo explícito, porém, como se viu na Europa, em 30. Até porque o nazismo, por exemplo, e isso não abona em nada aquela catástrofe genocida, postulava o crescimento com forte indução estatal. O que se tem hoje é o horror; um vazio político de onde emergem essas criaturas dos EUA, e coisas assemelhadas na Europa. Será uma crise longa, penosa, desagragdora, mais próxima da Depressão do final do século XIX...
CM- O declínio de um império, como foi o declínio do poder da Inglaterra no final século XIX?
MCT—Sim, é um quadro mais próximo daquele. O poder inglês foi sendo contrastado por nações com industrialização mais moderna. Um arranjo com estrutura de integração superior entre a indústria e o capital financeiro e que aos poucos ultrapassaria a hegemonia inglesa. Foi uma quebra, uma inflexão entre o capitalismo concorrencial e o capitalismo monopolista. A Inglaterra que havia sido a ‘fábrica do mundo’ perdeu o posto para o agigantamento fabril americano e alemão. Isso se arrastou por décadas. Foi uma Depressão, a primeira Depressão que tivemos no capitalismo (durou de 1873 a 1918). Levou à Primeira Guerra, que resultou na Segunda...
CM—Os EUA são a Inglaterra da nossa longa crise...
MCT - As forças que se articularam na sociedade norte-americana, basicamente forças conservadoras, de um reacionarismo profundo, não em condições de produzir uma nova hegemonia propositiva. Claro, eles tem as armas de guerra. Não é pouco, como temos visto. Vão se impor assim por mais tempo. Mas daí não sai um novo hegemon. Vamos caminhar para um poder multilateral, negociado, sujeito a contrapesos que nos livrarão de coisas desse tipo, como a ascendência do Tea Party nos EUA. Uma minoria que irradia a treva para o mundo.
(Com informações da Deutsche Welle)
Assinar:
Postagens (Atom)