domingo, 31 de julho de 2011

Terrorista louro de olhos azuis

Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Adital

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

domingo, 24 de julho de 2011

A obsessão e o complexo de vira-lata

Por Celso Amorin na Carta Capital

Até os jornais brasileiros tiveram de noticiar. Uma força-tarefa criada pelo Conselho de Relações Exteriores, organização estreitamente ligada ao establishment político/intelectual/empresarial dos Estados Unidos, acaba de publicar um relatório exclusivamente dedicado ao Brasil, -pontuado de elogios e manifestações de respeito e consideração. Fizeram parte da força-tarefa um ex-ministro da Energia, um ex-subsecretário de Estado e personalidades destacadas do mundo acadêmico e empresarial, além de integrantes de think tanks, homens e mulheres de alto conceito, muitos dos quais estiveram em governos norte-americanos, tanto democratas quanto republicanos. O texto do relatório abarca cerca de 80 páginas, se descontarmos as notas biográficas dos integrantes da comissão, o índice, agradecimentos etc. Nelas são analisados vários aspectos da economia, da evolução sociopolítica e do relacionamento externo do Brasil, com natural ênfase nas relações com os EUA. Vou ater-me aqui apenas àqueles aspectos que dizem respeito fundamentalmente ao nosso relacionamento internacional.

Logo na introdução, ao justificar a escolha do Brasil como foco do considerável esforço de pesquisa e reflexão colocado no empreendimento, os autores assinalam: “O Brasil é e será uma força integral na evolução de um mundo multipolar”. E segue, no resumo das conclusões, que vêm detalhadas nos capítulos subsequentes: “A Força Tarefa (em maiúscula no original) recomenda que os responsáveis pelas políticas (policy makers) dos Estados Unidos reconheçam a posição do Brasil como um ator global”. Em virtude da ascensão do Brasil, os autores consideram que é preciso que os EUA alterem sua visão da região como um todo e busquem uma relação conosco que seja “mais ampla e mais madura”. Em recomendação dirigida aos dois países, pregam que a cooperação e “as inevitáveis discordâncias sejam tratadas com respeito e tolerância”. Chegam mesmo a dizer, para provável espanto dos nossos “especialistas” – aqueles que são geralmente convocados pela grande mídia para “explicar” os fracassos da política externa brasileira dos últimos anos – que os EUA deverão ajustar-se (sic) a um Brasil mais afirmativo e independente.

Todos esses raciocínios e constatações desembocam em duas recomendações práticas. Por um lado, o relatório sugere que tanto no Departamento de Estado quanto no poderoso Conselho de Segurança Nacional se proceda a reformas institucionais que deem mais foco ao Brasil, distinguindo-o do contexto regional. Por outro (que surpresa para os céticos de plantão!), a força-tarefa “recomenda que a administração Obama endosse plenamente o Brasil como um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É curioso notar que mesmo aqueles que expressaram uma opinião discordante e defenderam o apoio morno que Obama estendeu ao Brasil durante sua recente visita sentiram necessidade de justificar essa posição de uma forma peculiar. Talvez de modo não totalmente sincero, mas de qualquer forma significativo (a hipocrisia, segundo a lição de La Rochefoucault, é a homenagem que o vício paga à virtude), alegam que seria necessária uma preparação prévia ao anúncio de apoio tanto junto a países da região quanto junto ao Congresso. Esse argumento foi, aliás, demolido por David Rothkopf na versão eletrônica da revista Foreign Policy um dia depois da divulgação do relatório. E o empenho em não parecerem meros espíritos de porco leva essas vozes discordantes a afirmar que “a ausência de uma preparação prévia adequada pode prejudicar o êxito do apoio norte-americano ao pleito do Brasil de um posto permanente (no Conselho de Segurança)”.

Seguem-se, ao longo do texto, comentários detalhados sobre a atuação do Brasil em foros multilaterais, da OMC à Conferência do Clima, passando pela criação da Unasul, com referências bem embasadas sobre o Ibas, o BRICS, iniciativas em relação à África e aos países árabes. Mesmo em relação ao Oriente Médio, questão em que a força dos lobbies se faz sentir mesmo no mais independente dos think tanks, as reservas quanto à atuação do Brasil são apresentadas do ponto de vista de um suposto interesse em evitar diluir nossas credenciais para negociar outros itens da agenda internacional. Também nesse caso houve uma “opinião discordante”, que defendeu maior proatividade do Brasil na conturbada região.

Em resumo, mesmo assinalando algumas diferenças que o relatório recomenda sejam tratadas com respeito e tolerância, que abismo entre a visão dos insuspeitos membros da comissão do conselho norte-americanos- e aquela defendida por parte da nossa elite, que insiste em ver o Brasil como um país pequeno (ou, no máximo, para usar o conceito empregado por alguns especialistas, “médio”), que não deve se atrever a contrariar a superpotência remanescente ou se meter em assuntos que não são de sua alçada ou estão além da sua capacidade. Como se a Paz mundial não fosse do nosso interesse ou nada pudéssemos fazer para ajudar a mantê-la ou obtê-la.

sábado, 23 de julho de 2011

NEOCANSEI: "vamos sair às ruas". Tô fora.

Tô fora. Essa idéia só pode ser do CANSEI, essa turma de "cheirosos" que se declarava apartidária e protestava contra a "desordem" da administração pública na era Lula, chamando-o até de cachaceiro, e que na verdade queriam o golpe. Agora, não conformados com o governo Dilma, aproveitam da crise do Ministério dos Transportes para incitar a população a sair às ruas para protestarem contra a corrupção. Eu tô fora.
Setores do PIG estão realmente sugerindo essa idéia, mas sei que no fundo eles querem mesmo é o "Fora Dilma". Que não se iludam que entre os participantes poderão estar o Serra, a Eliane Catanhede e toda a massa "cheirosa" da oposição.

Clique aqui para ler o interessante artido de Marco Aurélio Weissheimer.

domingo, 17 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Bueiros do RJ e cumplicidade neoliberal.

Por Altamiro Borges

Nos últimos dias, os telejornais têm dado grande destaque às explosões de bueiros da Light no Rio de Janeiro. Na semana passada, foram cinco ocorrências. Pessoas já foram feridas e os cariocas transitam assustados pelas ruas da cidade. Na sua irreverência, o colunista José Simão até já encontrou o “terrorista” responsável pelo tormento: “Osama Bin Light”.

O tratamento dado ao episódio, porém, é dos mais superficiais, na linha da “espetaculização” da notícia. A mídia privatista evitar apontar a verdadeira causa da tragédia: o processo criminoso da privatização da empresa de energia elétrica. Os neoliberais que fazem apologia do “deus mercado” e das maravilhas da iniciativa privada sumiram das telinhas. Eles são cúmplices da tragédia!

Light abandonou a manutenção

Como aponta Luiz Antônio Consenza, engenheiro da Comissão de Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), o caos atual decorre do descaso da empresa privatizada. “A Light abandonou a manutenção há 15 anos e a demanda pelos serviços só aumenta. Há uma grande necessidade de investimento para evitar novas explosões”.

Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concorda que os problemas vêm desde a privatização da empresa, em 1996. Segundo ele, “a Light fez uma gestão administrativa centrada na performance financeira, maximizando os ganhos em detrimento da qualidade no atendimento à população. O resultado disso é que em vez dela gastar em manutenção de equipamento deixou os gastos se transformarem em lucro”.

Campo minado no Rio de Janeiro

Nos últimos 12 meses, mais de trinta bueiros já explodiram, transformando a cidade num “campo minado”. Segundo o Ministério Público do Estado, há risco de explosão em todas as 4 mil câmaras subterrâneas de transformação da Light no Rio de Janeiro. Em 1.170 delas, a situação é considerada “mais crítica”. Destas, 582 ficam no centro da capital e 588 na zona sul (Copacabana, Ipanema e Leblon).

Na semana passada, sob a ameaça de ter de pagar multa de até R$ 1 milhão por cada nova explosão, a empresa assinou o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MP. No documento, ela assume compromissos de prazos para reformas e aceita pagar uma multa de R$ 100 mil para cada bueiro que explodir daqui para frente causando dano patrimonial público ou privado, lesão corporal ou morte. O TAC não isenta a empresa de qualquer responsabilidade civil ou criminal.

Cadê os tucanos privatistas?

Desde o ano passado, a Light é controlada pela Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig), que adquiriu as ações do grupo francês EDF. O atual presidente da empresa “privada”, Jerson Kelman, que foi presidente do Comitê Gestor da Crise Energética durante o governo FHC, afirmou nesta semana que o problema dos bueiros só será resolvido no final do ano.

A mídia privatista, que voltou à ofensiva contra os escândalos de corrupção no governo federal, bem que poderia investigar as negociatas que envolveram a privatização da Light e de outras estatais durante a gestão de FHC. A explosão dos bueiros no Rio de Janeiro traz à tona também as relações sinistras entre conhecidos tucanos – como FHC, José Serra e Aécio Neves. Mas a mídia demotucana, na sua cobertura seletiva, prefere tratar o grave assunto na linha da “espetaculização” da notícia.
Postado por Miro

domingo, 3 de julho de 2011

Invasão ao e-mail de Dilma dá-lhe atestado de lisura


A lamentável notícia da invasão ao e-mail de Dilma Rousseff por hacker durante a campanha presidencial em 2010 serviu pelo menos para uma coisa: dá-lhe um atestado de lisura, pois se houvesse alguma contra ela o PIG fatalmente iria explorar ao máximo para poder atrapalhar sua eleição.
Eu imagino com deve ter sido vasculhado seu e-mail em busca de alguma coisa que pudesse incriminá-la ou que servisse de escândalo para que o PIG explorasse com todo seu furor Dilmafóbico.
Quem dá o atestado de lisura a Dilma Rousseff é um ex-deputado e presidente do diretório do DEM do Distrito Federal Alberto Fraga onde diz: "Para quê (denunciar)? Para ajudar o PT? Eu ia prender o rapaz para ajudar Dilma, Zé Dirceu e quadrilha? Nada disso".
Quer dizer então que vasculharam tudo e não acharam nada, nem contra a Dilma, nem contra o Zé Dirceu e nem contra o PT? Ou seja o ex-deputado dá, também por tabela, atestado ao Zé Dirceu e ao PT, pois se houvesse algo de grave com certeza o PIG estaria explorando isso em suas manchetes.
E finalmente, por que o PIG não cobra agora uma CPI sobre isso, pois se esse crime fosse com o e-mail do Serra aí o Senador Álvaro Dias já estaria criando a CPI sobre essa invasão?.