domingo, 23 de fevereiro de 2014

Quem está por trás dos protestos na Venezuela?

Carta Maior

Envolvido no golpe de 2002 e representante da elite de seu país, "Leopoldo López representa o que há de mais à direita no espectro político venezuelano"


DemocracyNow
wikimedia commons
Os protestos na Venezuela têm sido apresentados pela mídia comercial como manifestações populares massivas contra o governo Maduro; no entanto, não têm sido discutidos os verdadeiros jogos políticos que elas escondem. Transcrevemos abaixo trecho da entrevista do professor George Ciccariello-Maher*, que dá um panorama da história recente venezuelana e das figuras envolvidas nas tentativas de deposição do governo Maduro. 
 
 
 
DemocracyNow: O que está acontecendo na Venezuela hoje?
 
George Ciccariello-Maher: Está acontecendo um grande evento, que será uma tarefa crucial para o governo de Maduro. É nossa obrigação que analisemos a situação dentro de seu contexto histórico, para entendermos quem está agindo. Se acompanhamos o Twitter, observamos que há uma tendência: neste momento “pós-occupy” e sucessor à Primavera Árabe, toda vez que vemos protestos nas ruas, nós começamos a retuitá-los e a sentir uma simpatia pela causa, mesmo sem saber qual é o contexto dela. Uma vez que analisamos o contexto venezuelano, o que vemos é mais uma tentativa, dentro de uma longa história de tentativas, de depor um governo democraticamente eleito, desta vez se aproveitando de uma mobilização estudantil contra a insegurança e as dificuldades econômicas.
 
DN: George Ciccariello, quem é Leopoldo Lopez? O Washington Post o descreve como um homem de 42 anos, de esquerda, que estudou em Harvard. O que você sabe da sua história?

GC-M: Dizê-lo de esquerda seria forçar a barra. Leopoldo Lopez representa o que há de mais à direita no espectro político venezuelano. Ele foi educado nos Estados Unidos desde o ensino médio até sua graduação na Harvard Kennedy, ele descende do primeiro presidente venezuelano e dizem que até mesmo do próprio Simon Bolívar. Em outras palavras, ele é o representante desta classe política tradicional que deixou o poder após a Revolução Bolivariana. Em termos de sua história política, seu partido, o Primera Justicia, foi formado por uma intersecção entre corrupção e intervenção norte-americana, corrupção por sua mãe, ao arrecadar fundo fraudulentos de uma companhia de petróleo venezuelana para este novo partido, e pelo outro lado fundos do NED, do USAID, e de instituições do governo norte-americano. Assim que Chávez chegou ao poder, os partidos políticos tradicionais entraram em colapso, e tanto a oposição interna quanto o governo do EUA precisavam criar algum outro veículo para fazer oposição ao governo Chávez, e este partido de Leopoldo Lopez é um destes veículos. Neste momento, até mesmo a liderança anterior do partido, Henrique Caprilles, que foi o candidato para as eleições presidenciais, percebeu que a linha de tomar ações nas ruas na tentativa de depor um governo democrático simplesmente não vai funcionar. No entanto, Leopoldo Lopez e outros líderes, como Maria Corina Machado e Antonio Ledesma, continuam tentando depor o governo.
 
Leopoldo López, líder da oposição venezuelana. Foto: Renato Araújo / EBC


 
DN: O presidente Maduro expulsou três diplomatas norte-americanos, alegando que eles estavam envolvidos no apoio à oposição. Você poderia nos falar sobre isso?
GC-M: O governo Obama continua a financiar esta oposição, até mesmo mais abertamente do que Bush fazia: Obama requisitou fundos para estes grupos opositores, mesmo que eles estivessem envolvidos em atividades antidemocráticas no passado e apesar do fato de López e outros estarem envolvidos no golpe de 2002 e terem participado de ações violentas na época. Dizer que López hoje é um representante da democracia só pode ser uma piada. Há uma questão interessante aqui, a de que o governo venezuelano, se ouvimos as palavras da esposa de Leopoldo López em declarações recentes, agiu para proteger a vida de López, que estava sob ameaças. A maneira pela qual López foi preso foi muito generosa, muito mais do que López foi no passado, quando liderou uma caça às bruxas contra os ministros chavistas que foram espancados em público no caminho da prisão. López pode até mesmo falar em um mega-fone no dia em que foi preso. Podemos nos perguntar: por que o governo de Maduro está sendo tão gentil com ele? Na verdade, preferem que ele seja o líder da oposição porque ele simplesmente não seria eleito, pois ele representa a nata das elites venezuelanas.

DN: O que vemos na mídia comercial é uma Venezuela fora de controle, com altos índices de violência, escassez de comida e inflação altíssima. Qual é sua avaliação da situação do país hoje?

GC-M: Para dizer claramente, a escassez de comida tem sido sim um problema, e a segurança pública é um problema gigantesco na Venezuela. Ambos são problemas profundos que tem a ver com falhas do governo para tratá-los, mas também relação com a ação de vários outros atores. No caso da criminalidade, a infiltração de máfias tem sido muito grande nos últimos anos, e no caso da escassez, o papel de capitalistas que estocam bens de consumo e a especulação da moeda tem sido uma força destrutiva que nos lembra muito o Chile de Allende, onde se tentou destruir a economia como uma preparação para o golpe. Mas, na verdade, este dois fatores que os estudantes tem protestado contra não explicam o porquê destes protestos estarem emergindo, pois os índices de criminalidade estão baixando e a escassez de comida não está nem de longe tão ruim quanto estava há um ano. O que explica o que está ocorrendo agora é que, depois das eleições de dezembro, este foi o momento em que a direita disse “já chega, estamos cansados de eleições, nós vamos às ruas tentar derrubar este governo”, mas neste meio tempo, os movimentos revolucionários venezuelanos, as organizações populares, que são no fim das contas a base deste governo, que nunca teve apenas como base Chávez ou Maduro enquanto individuos, mas sim milhões e milhões de venezuelanos que estão construindo uma democracia mais profunda e mais direta, construindo movimentos sociais, organizações, conselhos de trabalhadores, conselhos estudantis, conselhos de camponeses, estas pessoas estão continuando a luta, estão defendendo o governo Maduro, e estes protestos que estão ocorrendo principalmente nas regiões mais ricas de Caracas, a Beverly Hills de Caracas, não as fará desistir desta tarefa.

DN: E o papel dos EUA?

Os EUA continuam a financiar a oposição. Acho que no futuro, como costuma acontecer, nós teremos acesso às informações do grau de envolvimento dos EUA no financiamento à oposição venezuelana. Na realidade, esses protestos são um cálculo errado por parte da oposição, não parece que os EUA teriam dito à oposição para tomarem este caminho, pois ele não parece ser muito estratégico. Sabemos que esta é uma oposição em contato direto com a embaixada norte-americana, que recebe fundos do governo dos EUA, mas este é o movimento de uma oposição venezuelana autônoma que vai, como parece, novamente desmoronar.
 
Você pode conferir o vídeo da entrevista completa no site do DemocracyNow
 
(*) Professor da Drextel University e autor do livro  “We Created Chávez: A People’s History of the Venezuelan Revolution” (Nós Criamos Chávez: Uma História do Povo da Revolução Venezuelana)
 
Tradução de Roberto Brilhante

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Black Blocs querem desestabilizar a democracia a serviço dos "sem votos"

Tudo em cima

Black Blocs querem desestabilizar a democracia a serviço dos "sem votos"


- por Edgar Borges Júnior

Sobre o assassinato (sim, chamemos as coisas pelo nome, o cara não estava andando na rua, infartou e morreu) do cinegrafista Santiago Andrade, cabem algumas considerações:

1 - Alguns vem falar que não se deve criminalizar os movimentos sociais por conta do assassinato. E desde quando é movimento social andar com rojão na mochila? Com soco inglês, mascarados? Lula, José Rainha, João Pedro Stédile, Betinho, Dom Paulo Evaristo Arns, FHC nas passeatas pelas Diretas Já, todos, fizeram seus protestos, os seus movimentos sociais, sem violência e de cara limpa.

2 - Esse "movimento social" dos black blocks reivindica o quê? Representa quem? Quem delegou representação a eles para destruir pontos de ônibus, lixeiras, lojas e assassinar cinegrafistas e queimar o Fusca de um trabalhador quem voltava da igreja com a família? 


Desde quando alguém lhes outorgou o direito de exercer a violência como forma de protesto? Até disposição em contrário, só o Estado tem o monopólio do uso da violência, pois se cada um usasse a violência que lhe é inerente e potencial, teríamos a lei de Talião, olho por olho, dente por dente. Então, para o bem e para o mal, fica o uso da violência reservado apenas para o Estado.

3 - "Temos que garantir a liberdade de expressão". Ah vá? E desde quando a liberdade de expressão, dentro de uma democracia, pode ser usada como o gérmen de destruição do seu próprio sistema? 


Aos defensores intransigentes da liberdade de expressão, vai lá na Alemanha defender Hitler e o Nazismo pra ver o que lhe acontece. Que raios de liberdade de expressão é essa que me permite soltar rojões no meio da multidão, em direção das pessoas, e matar uma delas?

4 - "Ah, mas a PM mata muito mais". Ah vá(2)? E quem aqui não protesta contra os assassinatos cometidos por policiais, geralmente contra a juventude negra nas periferias?


E desde quando dois erros fazem um acerto? Ou agora virou competição: se a PM matar uma pessoa, o "movimento social" (e não consigo parar de gargalhar quando escrevo movimento social para os black blocks) tbem tem o direito de fazê-lo?

5 - Só não vê quem não quer: a atuação desse "movimento social" dos black blocks tem como tarefa única embaralhar o processo eleitoral e evitar a reeleição da Dilma no primeiro turno. Com todo o apoio da mídia, da direita (tanto a partidária, como a enrustida) e a outra face da direita, os partidos trotskistas de extrema esquerda. 


A quinta-coluna marcha com força no Brasil, se pretendendo como esquerda revolucionária, mas que só atravanca os avanços sociais para a maioria da população. E o mais triste é saber que esses vagabundos pegam jovens na periferia e pagam uma grana pra eles irem barbarizar no meio desses "protestos".

6 - Primavera árabe, movimentos na Espanha, Egito, Síria, Ucrânia, todos tem um ponto em comum: desestabilizar governos não alinhados com o imperialismo americano. Onde os black blocks atuaram, ou a direita venceu as eleições seguintes, ou se instalou uma ditadura que defende os interesses dos EUA. Como esse ano temos eleição no Brasil, é aqui que eles estão atuando com toda a força.

7 - Que a mídia e a direita recebem apoio financeiro e logístico do capital financeiro mundial para atuar no Brasil pelos seus interesses e contra a nossa pátria, é sabido desde a ditadura militar. Ou o quê os exilados e "comunistas" FHC e Serra foram estudar nos EUA? 


O que ninguém diz, em alto e bom som, e que com certeza acontece, é que a extrema-esquerda trotskista tbem está na mesma lista de pagamentos por serviços prestados. Como bem demonstrou o miserável Plínio, ao apoiar o "esquerdista" José Serra contra o Fernando Haddad.

8 - Outro grupo social ávido por apoiar o "movimento social" dos black blocks é o de professores universitários. Muitos deles atuaram no movimento estudantil secundarista e universitário e fizeram parte de partidos de esquerda, mas por conta de seu fracasso na política partidária hoje se dedicam a atacar por todos os lados o projeto popular democrático no poder desde 2003. 


Além da inveja, tem todos os holofotes da mídia que atacar o PT e o Lula garantem, e não há classe mais pavão de auditório da mídia do que esses "intelectuais" (gargalhando e chorando de rir ao escrever intelectuais pra esse tipo de gente).

Muito brevemente essa é a minha posição sobre o que vem acontecendo no Brasil. Quem é da esquerda popular democrática e apoia o ciclo de transformações iniciado em 2003 pelo Lula e está defendendo os black blocks está dando um grande tiro no pé. 


O primeiro passo para travar o bom combate político é saber identificar os companheiros e os adversários. Sem isso, vai dar abraço em cobra e acabar picado e enrolado e esmagado por ela. 

Toda a liberdade do mundo para os verdadeiros movimentos sociais protestarem pelo que quiserem e acharem justo. Para os black blocks, a força do Estado Democrático de Direito.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Questionamento do PSDB e do Gilmar Mendes sobre doações vira piada

PSDB acusa Estátua da Liberdade por quebra de decoro

PSDB protocolou junto ao STF um processo contra a estátua. Monumento teria sido flagrado com o braço levantado, em claro sinal de apoio a petistas


Estanislau Castelo Arquivo

Um dos símbolos da liberdade pode estar com seus dias contados.

O PSDB protocolou ontem, junto ao Supremo Tribunal Federal, e nas mãos de seu mais isento ministro, Gilmar Mendes, um processo contra a Estátua da Liberdade por quebra de decoro monumental.

A Estátua teria sido flagrada com o braço erguido, o que foi considerado pelos tucanos como uma clara referência ao gesto feito por José Dirceu e José Genoíno.

Um dos líderes que protocolaram o pedido ameaçou: "ou aquela piriguete abaixa aquele braço ou vamos às últimas consequências. Cogitamos inclusive derrubá-la".

Um ministro do Supremo que não quis se identificar disse que a Estátua pode ser enquadrada no "domínio do fato" e no artigo 45 do Código Penal, que reza que, sendo petista, todo castigo é pouco. Perguntado sobre o que seria esse "domínio do fato", o ministro não soube responder.

Em uma coletiva dada hoje pela manhã, em Nova York, o ícone mundialmente conhecido disse que prestou solidariedade aos "companheiros" presos por razões humanitárias.

E atacou os tucanos: "eu sou feita de cobre. Já esses que me acusam são um bando de caras de pau".

O símbolo maior da Baía de Nova York já havia feito o mesmo gesto anteriormente em comemoração à vitória dos atletas Tommie Smith e John Carlos, que ergueram o punho cerrado nas olimpíadas do México, em 1968,  em homenagem aos Panteras Negras, grupo que lutava pelos direitos civis contra o apartheid nos Estados Unidos.

Questionada sobre se não deveria fazer o mesmo sobre Guantánamo, reagiu com indignação: "mas eu fiz; vocês é que não prestaram atenção".

Uma repórter da rede de comunicação ultradireitista Fox News perguntou à Estátua se ela não se envergonhava de emprestar sua imagem a "comunistas brasileiros", ao invés de continuar como garota propaganda do "American way of life".

Irritada, a Estátua lembrou: "minha filha, eu sou francesa. Vim de presente morar aqui nessa espelunca".

A Estátua foi também indagada se doou dinheiro para as vaquinhas que estão sendo organizadas para pagar a multa imposta aos condenados. "Ah, isso não. Devo confessar que sou muito mão fechada e ando dura faz tempo".